quarta-feira, 30 de março de 2016
Profª Lisandra - O Romantismo
INSTITUTO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO
ENSINO MÉDIO NOTURNO
CADERNO DE APOIO
ATIVIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA
2º ANO/1º TRIMESTRE
PROFESSORA: LISANDRA CLIMENE BONOTTO
NOME:
TURMA:
O ROMANTISMO - Séc. XIX
Contexto histórico
Sempre houve temperamento e sensibilidade romântica. O estado de alma romântico pode ser encontrado em qualquer época, caracterizando-se pelo amor à natureza, a personalidade sonhadora, a fé, a liberdade, o saudosismo e a emoção.
No século XIX esse temperamento era tão forte que caracteriza um estilo de época: o Romantismo.
A palavra-chave em fins do século XVIII e no início do século XIX era Liberdade.
O Romantismo rompe com a tradição clássica e abre caminho para a modernidade. O novo público consumidor, de origem burguesa, não mais aceitando os padrões clássicos que indicavam uma concepção estática do mundo, dita novos valores: o apego às tradições nacionais, o gosto pelas lendas e narrativas de origem medieval e pelo heroísmo; o sacrifício e o sangue derramado, que evocavam o recente passado revolucionário, e a afirmação das nacionalidades.
No Brasil, o Romantismo reveste-se de um marcante conteúdo nacionalista e de exaltação dos elementos nacionais, pois corresponde ao nosso momento de luta pela emancipação política e de afirmação da nossa nacionalidade.
A literatura é utilizada como arma de ação política e social, através da poesia revolucionária e abolicionista. Todos os movimentos que sucederam o Romantismo e revelam rebeldia e recusa de tudo quanto possa tolher a liberdade criadora são, de certo modo, uma continuidade dele. Assim, este movimento é um passo importante rumo à modernidade.
Para saber mais: O Romantismo teve origem na Alemanha e na Inglaterra do século XVIII, espalhando-se para a França, Itália e demais países da Europa.
Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774) é um romance de Johann Wolfgang von Goethe. Marco inicial do romantismo, considerado por muitos como uma obra-prima da literatura mundial, é uma das primeiras obras do autor, de tom autobiográfico - ainda que Goethe tenha cuidado para que nomes e lugares fossem trocados e, naturalmente, algumas partes fictícias acrescentadas, como o final. acesse: www.starnews2001.com.br/literatura.html
O Romantismo proclama a liberdade de criação e de expressão.
São características do Romantismo:
• Liberdade de criação e de expressão
• Nacionalismo
• Historicismo
• Medievalismo
• Tradições populares
• Individualismo, egocentrismo
• Pessimismo
• Escapismo
• Crítica social
Essas são características predominantes do movimento, mas suas tendências foram diversas.
Veja algumas tendências e seus principais temas:
* Nacionalismo, historicismo e medievalismo:
Exaltação dos valores e os heróis nacionais, ambientando seu passado histórico, principalmente o período medieval.
* Valorização das fontes populares – o folclore:
Os autores buscavam inspiração nas narrativas orais e nas canções populares, manifestação do nacionalismo romântico.
* Confessionalismo
Os sentimentos pessoais do autor em dado momento de sua vida são expressos nas obras.
* Pessimismo
A melancolia do poeta inglês Lord Byron se faz presente em todas as literaturas, portanto há a presença do individualismo e do egocentrismo adquirem traços doentios de adaptação.
O “mal do século” ou tédio de viver conduz:
- ambiente exótico ou passado misterioso.
- narrativas fantásticas (envolvendo o sobrenatural)
- morte (como última solução)
* Crítica Social
O Romantismo pode assumir um caráter combativo de oposição e crítica social, observamos sua ocorrência na sua última fase.
ATIVIDADES:
1. O livro de Goethe é construído a partir de cartas que Werther, um jovem escritor e pintor, escreve a um amigo. Por meio delas, fica-se sabendo da chegada do jovem a um vilarejo alemão, do despertar de sua paixão não correspondida por Carlota. Carlota casa-se com Alberto, e Werther torna-se amigo do casal, o que acentua ainda mais sua frustração amorosa e acaba por leva-lo ao suicídio. Leia, a seguir, uma das cartas escritas depois de já estar perdidamente apaixonado: 30 de agosto
Infeliz! Não és um tolo? Não te enganas a ti mesmo? Porque te entregas a esta paixão desenfreada, interminável? Todas as minhas preces dirigem-se a ela; na minha imaginação não há outra figura senão a dela, e tudo que me cerca somente têm sentido quando relacionado a ela. E isso me proporciona algumas horas de felicidade – até o momento em que novamente preciso separar-me dela! Ah, Wilhelm!, quantas coisas o meu coração desejaria fazer! Depois de estar junto dela duas ou três horas, deliciando-me com sua presença, suas maneiras, a expressão celestial de suas palavras, e todos os meus sentidos pouco a pouco se tornaram tensos, de repente uma sombra turva meus olhos, mal consigo ouvir, sinto-me sufocado, como se estivesse sendo estrangulado por um assassino, meu coração bate estouvadamente, procurando acalmar os meus sentidos atormentados, mas conseguindo apenas aumentar a perturbação – Wilhelm, muitas vezes nem sei se ainda estou nesse mundo! E em outros momentos - quando a tristeza não me subjulga e Carlota me concede o pequeno conforto de dar livre curso as minhas mágoas, derramando lágrimas abundantes sobre suas mãos – tenho necessidade de afastar-me, de ir para longe, e então me ponho a errar pelos campos. Nessas horas, sinto prazer em escalar uma montanha íngreme, em abrir caminho num bosque cerrado, passando por arbustros que me ferem, por espinhos que me dilaceram a pele! Sinto-me um pouco melhor então. Um pouco! E quando então, cansado e sedento, às vezes fico prostrado no caminho, no meio da noite, a lua cheia brilhando sobre minha cabeça, quando na solidão do bosque busco repouso no tronco retorcido de uma árvore, para aliviar meus pés doloridos, e então adormeço, na meia-luz, mergulhando num sono inquieto – Ah, Wilhelm!, nessas horas de solidão de uma cela, o cilício e o cíngulo de espinhos seriam um bálsamo para minha alma sequiosa! Adeus! Somente o túmulo poderá libertar-me desses tormentos. J. W. Goethe
a. Qual é o estado de espírito da personagem segundo as informações contidas no texto? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b. O escapismo ou desejo de evasão é uma constante nos textos românticos. Manifesta-se na busca da natureza, na fuga para o passado próximo (a infância) ou distante (a Idade Média), o sonho ou a fantasia e a morte. Identifique, na carta, manifestações de escapismo. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
I. - Preferência pela realidade exterior sobre a interior.
II. - Anteposição da fé à razão, com valorização da mística e da intuição.
III.- Poesia descritiva de representação dos fenômenos da natureza. Detalhismo.
IV. - Gosto pelo pitoresco, pela descrição de ambientes exóticos.
V.- Atenção do escritor aos detalhes para retratar fielmente o que descreve.
2. Assinale a alternativa correta.
Características gerais do Romantismo se acham expressas nas proposições:
( ) a) II e IV
( ) b) II e III
( ) c) I e IV
( ) d) II e V
3. Assinale a alternativa que traz apenas características do Romantismo:
( ) a)idealismo, religiosidade, objetividade, escapismo, temas pagãos.
( ) b) predomínio do sentimento, liberdade criadora, temas cristãos, natureza convencional, valores absolutos.
( ) c) egocentrismo, predomínio da poesia lírica, relativismo, insatisfação, idealismo.
( ) d)idealismo, insatisfação, escapismo, natureza convencional, objetividade.
4. Identifique a característica romântica predominante em cada um dos seguintes textos:
a) Eu sei como este mundo ri d’escárnio,
Deste aéreo sonhar da fantasia.
Eu sei... P’ra cada crença de nossa alma,
Ele tem uma frase de ironia...
Ah! Deixai-me guardar o meu segredo:
Deste riso cruel eu tenho medo...
b) Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda
Leva-me ao nada, lava-me contigo.
c) Sonho –me às vezes rei, nalguma ilha,
Muito longe, nos mares do oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha...
ROMANTISMO EM PORTUGAL
As datas que marcam o início e o fim do Romantismo português são:
1825 – publicação do poema narrativo Camões, de Almeida Garret, em que o autor faz uma biografia
sentimental do grande poeta renascentista português.
1865 – ocorrência da questão Coimbrã, uma polêmica intelectual que envolveu escritores românticos e
escritores novatos.
Contexto Histórico:
Portugal não se isolou dos demais países europeus no que diz respeito às transformações sociopolíticoeconômicas que se seguiram à Revolução Francesa. Merecem destaque as seguintes ocorrências:
a) substituição da monarquia absolutista pelo liberalismo;
b) vinda da família real para o Brasil, em 1808, fugindo da invasão francesa;
c) Independência do Brasil, com reflexos na economia portuguesa, visto que a burguesia perdeu um importante mercado de exportação;
d) Constituição portuguesa de 1822, de caráter liberal.
Nesse contexto ocorreram as primeiras manifestações do Romantismo português, período em que merecem
Destaque: Almeida Garret, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco e Júlio Dinis.
Autores e obras:
Almeida Garret (1799 – 1854)
João Batista da Silva de Almeida Garret nasceu no Porto e morreu em Lisboa.
Formou-se em direito pela Universidade de Coimbra. Viu-se obrigado ao exílio na Inglaterra quando a Constituição de 1822 foi abolida por um golpe comandado pela aristocracia portuguesa. Além de escritor, fundou pelo menos quatro jornais e exerceu intensas parlamentares e diplomáticas Seu relacionamento adúltero com a viscondessa da Luz parece ter inspirado Folhas caídas, seu principal livro de poemas.
Obras:
Poesia: Camões (1825) – publicado em Paris, a primeira edição omitia, por razões políticas, o nome do autor; Dona Branca (1826); Folhas caídas (1853),
Prosa: Viagens na minha terra (1846); O Arco de Santana (em dois volumes: 1845 e 1850).
Teatro: Frei Luís de Sousa (1844).
Almeida Garret é considerado o mais importante autor romântico português. Além de ter renovado o teatro
com Frei Luís de Sousa, estimulou o nacionalismo, despertando o gosto pela tradição popular, que incorporou,
sobretudo nos romances.
Alexandre Herculano (1810 – 1877)
Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo nasceu em Lisboa e morreu em Valde-Lobos.
São fatos importantes de sua vida o exílio na Inglaterra e na França e uma polêmica que travou com o clero, ambos decorrentes de sua participação nas lutas liberais. Juntamente com Garret, foi um intelectual que atuou bastante nos programas de reformas da vida portuguesa.
Na ficção de Herculano, além de temas religiosos, predomina o caráter histórico
dos enredos, voltados para A Idade Média e relacionados às origens da nação portuguesa.
Obras:
Poesia: A harpa do crente (1838).
Prosa:
a) Romance: O bobo (1843); Eurico, o presbítero (1844); O monge de Cister (1848).
b) Conto: Lendas e narrativas (1851).
c) Historiografia: História de Portugal (em quatro volumes, o último publicado em 1853).
“Eurico, o Presbítero é um livro escrito por Alexandre Herculano. Está na linha de livros do
Romantismo em obra épica. O livro busca enfatizar de forma ferrenha as características ao ponto
de comparar a mulher a um ser angelical, as idéias opostas estão no decorrer de toda trama, o
uso freqüente da natureza para mostrar a natureza humana (sentimento bucólico), romantismo
monológico (onde o amor só tem uma linha de raciocínio), idealismo platônico, conflito dos
personagens é constante”.
AMOR DE PERDIÇÃO (fragmento)
Amor de perdição é uma das mais conhecidas obras do Romantismo português.
Movidos por rixas, os familiares de Simão e Teresa conseguem impedir a união dos jovens. Por ordem do pai, Teresa fica enclausurada num convento. Simão, acusado de um crime, refugia-se na casa de João da Cruz e desperta a paixão imediata de Mariana, filha de João. Mais tarde Simão é preso e, após longo processo, condenado ao degredo na Índia. Durante o processo, Simão e Teresa se comunicam apenas por cartas, entregues por uma mendiga. O trecho que vamos ler foi extraído do final da novela. Sem a menor esperança de rever Simão, Teresa envia-lhe uma carta de despedida, que o infeliz jovem vai ler no navio que o leva para a Índia. Nessa viagem, acompanha-o Mariana.
A vida era bela, era, Simão, se a tivéssemos como tu ma pintavas nas tuas cartas, que li há pouco! Estou vendo a casinha que tu descrevias defronte de Coimbra, cercada de árvores, flores e aves. A tua imaginação passeava comigo às margens do Mondego, à hora pensativa do escurecer. Estrelava-se o céu, e a lua abrilhantava a água.
Eu respondia com a mudez do coração ao teu silêncio, e, animada por teu sorriso, inclinava a face ao teu seio, como se fosse ao de minha mãe. Tudo isto li nas tuas cartas; e parece que cessa o despedaçar da agonia enquanto a alma se está recordando. Noutra carta, me falavas em triunfos e glórias e imortalidade do teu nome. Também eu ia após da tua aspiração, ou diante dela, porque o maior quinhão dos teus prazeres de espírito queria eu que fosse meu.
Oh! Simão, de que céu tão lindo caímos! À hora que te escrevo, estás tu para entrar na nau dos degredados, e eu na sepultura.
Que importa morrer, se não podemos jamais ter nesta vida a nossa esperança de há três anos?! Poderias tu com a desesperança e com a vida, Simão? Eu não podia. Os instantes do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia; a morte é mais que uma necessidade, é uma misericórdia divina, uma bem-aventurança para mim.
Rompe a manhã. Vou ver minha última aurora... a última dos meus dezoito anos!
Abençoado sejas, Simão! Deus te proteja, e te livre de uma agonia longa. Todas as minhas angústias lhe ofereço em desconto das tuas culpas. Se algumas impaciências a justiça divina me condena, oferece tu a Deus, meu amigo, os teus padecimentos, para que eu seja perdoada.
Adeus! À luz da eternidade parece-me que já te vejo, Simão.
1. Teresa recorda-se de dois assuntos tratados por Simão em cartas anteriores. Quais assuntos?
2. Teresa almejava montar um lar com Simão. A descrição desse lar obedece a convenções bem típicas do Romantismo. Explique.
3. No texto ocorre a palavra céu e também a palavra eternidade. Qual dos dois termos conota a desejada experiência terrena do casal? Explique sua resposta.
4. “(...) me falavas em triunfos e glórias e imortalidade do teu nome.”
As aspirações de Simão revelam um comportamento romântico baseado principalmente:
a) na religiosidade;
b) no individualismo exacerbado;
c) no mal-do-século;
d) na melancolia;
5. Por que Teresa encara a morte como uma “bem-aventurança”?
6. Identifique o autor romântico português de que trata cada fragmento:
a) Toda a sua produção literária é mais consistente quando tem como base a história de Portugal.
b) O caráter ultra-romântico de sua novelas e romances revela-se, sobretudo pelo sentimentalismo exagerado das personagens;
c) Inaugurou o Romantismo português com um poema narrativo que é a biografia poética de um famoso poeta renascentista.
7. “(...) a porta abriu-se, e um vulto negro de monja apareceu no limiar dela.” (Alexandre Herculano)
A presença de figuras do mundo medieval na literatura romântica portuguesa relaciona-se:
a) ao mal-do-século;
b) à evasão no passado histórico em busca das raízes da nacionalidade.
c) à necessidade de incorporar à literatura figuras excêntricas.
d) à religiosidade que marcou todo o Romantismo.
ROMANTISMO NO BRASIL
O Romantismo brasileiro revestiu-se de um expressivo cunho nacionalista. A Independência, conquistada em 1822, reforçou a busca de elementos caracterizadores e diferenciadores de nossa nacionalidade. Daí o forte sentimento de fidelidade à pátria e às suas tradições e a criação de símbolos que pudessem ser incorporados à consciência nacional e passassem a representar o país. Entre eles, o índio, a natureza e a linguagem.
São as seguintes obras que delimitam, para efeitos didáticos, o Romantismo no Brasil:
1836- Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, em cujo prefácio encontram-se algumas das diretrizes da nova estética.
1881- Publicação de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance realista de Machado de Assis, e de O Mulato, romance naturalista de Aluísio de Azevedo.
A vinda da família real para o Rio de Janeiro, em 1808, provocou uma série de mudanças no país. O Brasil deixa de ser apenas uma colônia, passa a ter mais autonomia. O militar, o comerciante, o artesão, o funcionário público, o homem de imprensa e os empregados das firmas comerciais passam a compor de forma significativa a sociedade da época. O convívio social é dinamizado pela vida dos salões e as ruas ganham uma agitação nova. A literatura conta com a avidez do público feminino e o Romantismo difunde-se com relativa facilidade.
O desenvolvimento da nação foi acompanhado por um crescente sentimento anticolonialista, do qual resultou a nossa Independência, em 1922.
Como não tínhamos um passado medieval, fomos buscar no índio o símbolo da raça brasileira – as virtudes do homem nacional, o elemento de auto-afirmação e, de certo modo, de oposição ao português.
Inspirando-se nos procedimentos do cavaleiro medieval europeu, os escritores caracterizaram o índio como um nobre, e não é difícil fazer uma analogia entre o heroísmo dos cavaleiros da Idade Média e a bravura e o destemor dos colonizadores que adentravam a selva brasileira em busca de riqueza do nosso solo.
Entretanto o nacionalismo romântico e a busca do passado impediram muitas vezes uma visão objetiva da realidade brasileira, e permitiram uma fuga aos problemas do pis e do povo. A exaltação do índio, por exemplo, desviava a atenção de uma avaliação crítica da escravatura.
Foi apenas a partir de 1860, com Castro Alves, que a poesia voltou-se para a realidade política e social; ligando-se às lutas pelo abolicionismo e denunciando o choque entre os símbolos e a realidade social.
POESIA:
A poesia romântica divide-se em três gerações. Embora cada uma delas possua características próprias, é bastante acentuada a interpenetração e a transferência de características de uma geração à outra.
1ª GERAÇÃO – Nacionalista
Características: Nacionalismo, aversão à influência portuguesa (lusofobia), religiosidade misticismo, indianismo.
Temas: o índio, a saudade, o amor impossível.
Principais autores:
Gonçalves de Magalhães: Embora voltado para a poesia religiosa, como deixa transparecer em Suspiros poéticos e saudades, continuou a cultivar a poesia indianista de caráter nacionalista. Suas poesias são fracas, segundo a crítica literária; sua importância advém do fato de ter sido o introdutor do Romantismo no Brasil.
Gonçalves Dias: Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823, no sítio Boa Vista, em terras de Jatobá, a 14 léguas de Caxias. Aos 41 anos morreu em um naufrágio do navio Ville Bologna próximo a região de Baixos dos Atins no município de Tutóia, próximo aos Lençóis maranhenses, em 3 de novembro de 1864. Apesar de ser Advogado de formação é conhecido muito mais como Poeta.
GONÇALVES DIAS – CANÇÃO DO EXÍLIO
Natureza e saudade se entrelaçam em suas obras. A nostalgia, o retorno ao passado e a exaltação da pátria também caracterizam a sua obra. As lamentações pelo amor impossível, os anseios, as inquietações, os desencantos caracterizam o lirismo amoroso desse autor, que muitas vezes se identifica com a atitude de vassalagem do trovador medieval. O indianismo dominou a sua obra: idealizou o indígena, ressaltando seu sentimento de honra e nobreza de caráter; descreveu o índio como um herói, procurando torná-lo símbolo de toda uma raça, capaz de categorizar o brasileiro em face do europeu; exaltou a natureza em que viviam os selvagens e procurou interpretar a psicologia do índio brasileiro.
I-Juca Pirama – Canto VIII
Gonçalves Dias
Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de vis Aimorés.
Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontre amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigo tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
Não encontre doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E o horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e flecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és.
01. O eu-lírico do poema dirige suas palavras
a) aos Aimorés b) ao filho c) ao leitor d) aos tupis
02. No verso “Pois choraste, meu filho não és!”, o eu-lírico
a) renega o filho
b) amaldiçoa o filho
c) ignora o filho
d) engana o filho
03. O questionamento expresso nos dois primeiros versos expressa um sentimento de
a) impaciência b) estranheza c) desespero d) ansiedade
04. Para o eu-lírico, o fato do filho ter chorado diante dos inimigos é um motivo de
a) orgulho b) tristeza c) preocupação d) vergonha
05. Pela leitura do poema pode-se afirmar que
a) O pai compreende a atitude do filho.
b) O filho justifica sua atitude diante das acusações.
c) A coragem é um atributo essencial para o eu-lírico.
d) O pai deseja que o filho se desculpe diante da tribo.
06. Dentre os infortúnios evocados pelo eu-lírico, há o desejo de que o filho viva privado de seu papel social. Esse desejo é expresso nos versos
a) “E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:”
b) “Sempre o céu, como um teto incêndio,
Creste e punja teus membros malditos”
c) “Implorando cruéis forasteiros
Seres presa de vis Aimorés”
d) “Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando”
07. Uma punição ao filho advinda da natureza é expressa no verso
a) “Não encontre amor nas mulheres”
b) “Um amigo não tenhas piedoso”
c) “Não encontre doçura no dia’
d) “Manitôs não falem nos sonhos,”
08. O último infortúnio evocado pelo pai para o filho é
a) não ter consolo nas suas crenças.
b) não ter água para matar a sua sede.
c) não poder desfrutar do descanso noturno.
d) não ter os rituais realizados depois da morte.
2ª GERAÇÃO – Ultrarromântica
Características: Individualismo, pessimismo, mal-do-século, morbidez, noturnismo.
Temas: a dúvida, o tédio, a orgia, a infância, o medo de amar, o sofrimento.
Principais autores:
Álvares de Azevedo: Sua obra, influenciada também pela sua personalidade adolescente, revela ambigüidade, indecisão: ora aspira aos amores virginais e idealiza a mulher; ora descreve-a erotizada e degradada. Brumas, visões, sonhos e sentimentalidade cedem lugar muitas vezes ao realismo humorístico, ao cinismo e à irreverência. Revelando uma dúbia inclinação pela mãe e pela irmã, a imagem punitiva da mãe talvez tivesse contribuído para a sua oscilação entre o erotismo e a moralidade.
Foi o poeta que mais se deixou contagiar pelo mal-do-século: a temática do tédio e da morte, o ceticismo e o culto do funéreo atravessam todas as suas obras; a angústia, a descrença e o satanismo estão presentes até mesmo no lirismo amoroso, no qual o amor e a felicidade se mostram como coisas inatingíveis.
ADEUS, MEUS SONHOS
Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!
Não levo da existência uma saudade!
E tanta vida que meu peito enchia
Morreu na minha triste mocidade!
Misérrimo! Votei meus pobres dias
À sina doida de um amor sem fruto,
E minh‟alma na treva agora dorme
Como um olhar que a morte envolve em luto.
Que me resta, meu Deus? Morra comigo
A estrela de meus cândidos amores,
Já que não levo no meu peito morto
Um punhado sequer de murchas flores!
(Álvares de Azevedo)
Vocabulário:
Votar – dedicar, devotar;
Sina – destino, sorte;
Cândido -puro, ingênuo.
EXERCÍCIO
1. Que palavras e expressões do poema caracterizam o chamado mal-do-século?
2. Identifique a causa principal do desejo de morrer manifestado pelo eu-lírico.
3. Um dos sonhos do eu-lírico é o da realização amorosa. Entretanto, ao utilizar a metáfora “estrela”, na última estrofe, revela a impossibilidade de realizar o seu sonho. Explique essa afirmação.
4. Identifique os versos que repetem a idéia do vazio interior que deixa o eu-lírico sem motivações para a vida.
Casimiro de Abreu: dois temas marcam as suas obras: o saudosismo (da pátria, da família, do lar, da infância) e o lirismo amoroso. Em sua poesia lírico-amorosa encontramos a imagem da mulher meiga e idealizada. Sua oscilação entre a sentimentalidade e os impulsos eróticos o conduz a uma malícia mascarada, fruto do temor de transgredir os limites da moralidade do seu tempo e da necessidade de descrever sentimentos e situações adolescentes, mais imaginativas que reais. Ambos os temas são marcados pelo pessimismo decorrente do mal-do-século.
Fagundes Varela: Cultivou temas de todas as gerações: o pessimismo, a morbidez, a natureza, a poesia amorosa, além de mostrar-se contrário à monarquia e à escravidão. Escreveu também poemas religiosos, de inspiração bíblica, apesar de criticar a Igreja da época.
3ª GERAÇÃO: Social, liberal ou condoreira
Características: aprofundamento do espírito nacionalista, do liberalismo, da poesia social e da política.
Temas: a escravidão, a república, o amor erótico.
Castro Alves: duas vertentes marcam suas obras: a poesia social e a poesia lírica. Sua poesia social caracterizava-se pelos temas abolicionistas e de libertação dos povos; incorpora o negro, de forma definitiva, na literatura, apresentando-o como herói e como um ser amoroso, ativo, sofredor, esperançoso, oprimido e lutador. Ao contrário dos outros românticos, sua poesia lírico-amorosa parece resultar em grande parte da experiência real e não apenas da imaginação. São poemas que traduzem esperança, euforia, desespero, saudade, pressentimento da morte, exaltação da natureza e um sensualismo erótico, expresso por palavras recorrentes como seios, cabelos, perfumes, etc.
VOZES D’ÁFRICA
Castro Alves
(fragmentos)
Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
- Infinito: galé!...
Por abutre – me deste o sol candente,
E a terra de Suez – foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
(...)
Cristo! Embalde morreste sobre um monte...
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos – alimária do universo,
Eu – pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
- Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p’ra os crimes meus!...
Há dois mil anos... eu soluço um grito...
Escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
1. O fragmento desse poema de Castro Alves fala
a) da religiosidade do povo africano c) da escravidão do povo africano
b) da exploração do território africano d) da história do povo africano
2. O eu-lírico do poema é a África personificada. Nas duas primeiras estrofes do fragmento o interlocutor do eu-lírico é
a) Prometeu b) Deus c) abutre d) Suez
3. No verso “Que embalde desde então corre o infinito...”, a palavra destacada tem o sentido de
a) inutilmente b) rapidamente c) lentamente d) isoladamente
4. O grito dado “Há dois mil anos” pelo eu-lírico é em favor
a) de Cristo b) de José c) da América d) dos seus filhos
5. Ao mencionar o personagem mitológico Prometeu, o eu-lírico estabelece uma relação
a) de oposição b) de afetividade c) de semelhança d) de animosidade
6. No verso “Condor que transformara-se em abutre”, temos a figura de linguagem
a) metáfora b) antítese c) metonímia d) catacrese
7. Quando se refere à América, o eu-lírico expressa
a) um elogio b) um questionamento c) uma lamentação d) uma acusação
EXERCÍCIOS DE REVISÃO
1. Que ano e que obra assinalam, didaticamente, o início do Romantismo brasileiro?
2. Com que elementos os românticos brasileiros expressavam o sentimento nacionalista? A fauna, a flora são representativas?
3. Que elemento representava as virtudes do homem nacional, o símbolo da raça brasileira, de auto-afirmação de nossa nacionalidade e, de certo modo, de oposição ao português?
4. Com qual poeta observa-se o choque entre os símbolos românticos e a realidade nacional?
5. Preencha corretamente a que geração romântica pertence os autores abaixo:
a) Castro Alves:
b) Gonçalves Dias:
c) Álvares de Azevedo:
d) Gonçalves de Magalhães:
e) Casimiro de Abreu:
f) Junqueira Freire:
g) Fagundes Varela:
6. Quais as principais características da 1ª geração?
7. Quais as principais características do Ultra-Romantismo?
8. Qual poeta que mais se deixou contagiar pelo chamado mal-do-século?
9. O texto seguinte é um fragmento de um poema de Fagundes Varela. Que características do Ultra-Romantismo podemos encontrar nestes versos?
Não te apavore o aspecto das tumbas.
Esta boca sarcófaga que a terra
Aqui a nossos pés abriu medonha
Não é engolir-nos.
O nosso cálix de abundantes dores
Não transbordou ainda.
Tua missão, minha harpa, é grande, é grande:
Sangremo-nos à morte.
Aos túmulos, aos túmulos, minha harpa!
10. Identifique a característica romântica marcante neste fragmento do poema “Meus oito anos”, de Casimiro de Abreu.
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
11. Como é caracterizada a poesia de Castro Alves?
Atividades de produção textual:
Ditadura militar para combater a corrupção? Recordar é preciso!
Uma das consignas presentes (mas minoritária) nas manifestações do último dia 15 e, talvez, uma das mais controvertidas diz respeito ao retorno da ditadura militar para combater a corrupção. Existe no imaginário popular a ideia de que todos os políticos são corruptos e somente os militares, com braços fortes, poderiam salvar o Brasil da roubalheira que nos assola.
É digno que diante dos bilhões desviados da Petrobras, com denúncias que atingem a grande maioria dos partidos tradicionais, pensemos em alternativas radicais para mudar os rumos do país. No entanto, antes de levantar cartazes e aderir à causa de soluções mágicas, é preciso recordar como era a administração militar e, mais ainda, verificar se, de fato, um novo regime autoritário seria a solução para acabar com a corrupção no país.
Em primeiro lugar, é preciso refletir sobre quem governa durante a ditadura. No imaginário popular está presente que não existem políticos nesse período, como se a administração pública ficasse a cargo exclusivamente de “pessoas de bem” com fardas, cassetetes e instrumentos de tortura. Ora, não só existem políticos como, a título de exemplo, o conhecido Paulo Maluf – aquele do “rouba, mas faz” – foi prefeito de São Paulo nomeado pelos militares entre 1969 e 1971. Grande parte dos velhos barões da política atual, como Sarney e Maluf, é cria do período sombrio que se iniciou em 1964.
O próprio termo “político” é repleto de indagações. Quem faz parte da categoria “políticos” senão pessoas com famílias, que comem e bebem, se divertem e andam pelas ruas? São pessoas comuns que, ao tomar contato com a estrutura corrupta e corruptível do sistema político brasileiro, encontram ali um meio de ascensão econômica, sejam elas garis, operários, professores ou militares. Todos estão suscetíveis à corrupção enquanto a estrutura se mantiver a mesma.
Outro ponto importante sobre a corrupção diz respeito à relação entre empresas privadas e Estado, atualmente simbolizada pela denúncia de propinas de empreiteiras pagas a partidos políticos por facilitação em contratos com a Petrobras. Como os militares lidavam com essa relação durante a ditadura? Da pior maneira possível. Cabe lembrar que esse período foi marcado por grandes privatizações, aumento significativo da dívida externa e abertura do país ao capital estrangeiro.
As denúncias de desvios e desmandos são inúmeras. Os jornais Movimento e Coojornal denunciaram, em 1978, o favorecimento da empresa Jary Florestal e Agropecuária envolvendo Golbery do Couto e Silva e, diretamente, o secretário particular do presidente Geisel, Heitor Ferreira. O presidente da General Eletric, Thomas Smiley, disse que a empresa pagou suborno à direção da Rede Ferroviária Federal para a aquisição de 195 vagões de trens. A empresa Agropecuária Capemi Indústria e Comércio Ltda, fundada e dirigida por militares, foi contratada para extrair e comercializar madeira da região do Lago de Tucuruí. Faliu em 1983, após ter conseguido desmatar apenas 10% da área que havia sido contratada. Metade dos 349 mil m³ de madeira extraída desapareceu. O diretor-presidente da empresa, Fernando José Pessoa, e o representante do governo federal, Roberto Amaral, desviaram cerca de US$ 10 milhões.
Existem ainda denúncias de inúmeras fraudes e maquiagens bancárias, superfaturamentos, cobranças indevidas, irregularidades administrativas e favorecimentos de empresas aliadas ao regime militar. Infelizmente muitas dessas denúncias jamais foram investigadas e dificilmente o serão no futuro. Dos 1.153 processos de investigação de corrupção entre 1968 e 1973, os militares resolveram arquivar mais de mil para não comprometer o governo. Como a ditadura militar foi marcada, dentre outras coisas, por não haver controle social, por uma imprensa controlada e proibição de manifestações, tudo leva a crer que a corrupção foi muito maior do que imaginamos.
Nesse sentido, antes de levantar uma bandeira para solucionar o problema da corrupção, é preciso investigar todas as nuances daquilo que nos vendem. Em tempos de acirramento das posições políticas, somos tragados pela exigência de posicionamentos imediatos, sem muita reflexão. No entanto, quando se trata de encontrar soluções políticas para o Brasil, é necessário criticidade e sensatez. Caso contrário, corremos o risco de sermos surpreendidos pelo Cavalo de Troia brasileiro – uma solução aparentemente ideal para nossos propósitos, mas que esconde surpresas terríveis no seu interior.
Thiago Bagatin é professor do curso de Psicologia da PUCPR e presidente do Sindypsi.
QUESTÃO: NA SUA OPINIÃO, COMO É POSSÍVEL DIMINUIR COM A CORRUPÇÃO NO BRASIL? Levante hipóteses:
PRODUÇÃO TEXTUAL:
Escreva um artigo de opinião sobre o seguinte tema: Intervenção militar é a solução?
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